Botafogo, por isso é que tu és

Sentimentos confusos após Botafogo 3x4 Palmeiras.

Arthur Lemos Coutinho
4 min readNov 2, 2023
Postagem nos stories do perfil oficial do Botafogo em 01/11/2023.

Tem como dormir depois de abrir 3x0 no placar e mesmo assim perder uma partida por 4x3? Não tem. Mas é preciso acordar. Então aqui vão algumas questões rápidas sobre a vitória do Palmeiras de 4x3 em cima do Botafogo.

O primeiro de tudo é que o Botafogo só depende dele pra ser campeão brasileiro de 2023. O momento é horrível, mas olhando pra tabela é isso que importa: seguimos na liderança. Então é preciso levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima, meu Botafogo!

É incontestável, contudo, que essa derrota deixa cicatrizes. E a cura dessas cicatrizes passa por espantar os fantasmas dos erros da arbitragem. Que o Botafogo já foi prejudicado por erros de arbitragem durante sua história é fato. Mas não me parece ter sido esse o caso da partida de ontem. Por isso, é preciso reconhecer algo óbvio e doloroso: a vitória do Palmeiras esteve longe de passar por erros de arbitragem. Longe.

Bráulio da Silva Machado, arbitro da partida, poderia ter dado só amarelo pro Adryelson no lance da falta no Breno Lopes? Poderia. O VAR exagerou em ter chamado? Não. O VAR poderia ter chamado pra ver uma falta no TchêTchê no lance do segundo gol do Palmeiras? Poderia. Foi um absurdo não chamar? Não. O pênalti no Tiquinho Soares poderia não ter sido marcado? Poderia. Foi um pênalti super claro? Não. O VAR chamou pra corrigir? Também não. Ou seja, se a gente entrar nessa do que poderia e não poderia ter acontecido a gente teria que falar, principalmente, das chances claras de que perdemos e do pênalti desperdiçado. Então, assim, vamos ficar com os fatos: a vitória do Palmeiras aconteceu por méritos em jogar futebol.

Se é doloroso reconhecer que a derrota de ontem não foi culpa da arbitragem, resta o essencial: reconhecer que o Botafogo perdeu primeiro para o Palmeiras e depois para o próprio Botafogo. A pergunta que fica é: como o Botafogo deveria ter administrado melhor o resultado no segundo tempo? Algumas respostas genéricas são: se adaptando às mudanças realizadas por Abel Ferreira no time do Palmeiras, corrigindo a marcação em cima do jovem e promissor Endrick, se defendendo com a posse da bola (gastando a bola), fazendo o tempo passar enquanto o Palmeiras se desgastasse e matando a partida em contra-ataques.

Se foi esse o plano acordado no vestiário durante o intervalo, o plano não foi executado corretamente. Se o plano não foi esse talvez a inexperiência do técnico Lúcio Flavio tenha sido decisiva. Mas num esporte coletivo é sempre muito cruel individualizar sucessos e fracassos.

A boa notícia é que o Botafogo fez um ótimo primeiro tempo, dando amostras do que ainda podemos e precisamos fazer para materializar o desejo de ser campeão. O vigor físico e a velocidade de Junior Santos, a profundidade oferecida pelas jogadas de Victor Sá, a mobilidade e qualidade de Tiquinho Soares, a participação inteligente de Eduardo, o poder de marcação e distribuição de jogo de Marlon Freitas e TchêTche, a segurança defensiva de Adryelson e Victor Cuesta, as interceptações e participações de Di Placido e Marçal, as defesas milagrosas de Lucas Perri e várias outras atribuições de jogadores vindo do banco fundamentais para a campanha vitoriosa construída até aqui.

Se internamente nunca faltou confiança no trabalho, conforme TchêTchê declarou no intervalo, agora teremos nova oportunidade de por isso em prática: seguir trabalhando e vencendo as partidas.

Assim, para ser campeão em 2023, o Botafogo precisará novamente se fortalecer diante as frustrações. Começando pela gestão do clube, passando pela comissão técnica, elenco de jogadores e chegando na torcida.

Não podemos negar, nesse sentido, que foi estranho ver John Textor fazendo um vídeo pedindo o apoio da torcida independentemente do resultado do jogo e logo após o apito final vê-lo entrando em campo de forma descontrolada. Falar com os jogadores naquele momento parecia ser a reação mais humana e emocionada possível. Mas profissionalizar o clube também passa por conduzir bem momentos como esses. Se é verdade que estamos construindo uma Família Botafogo, John Textor parece ser um pai super presente, protetor e que acaba errando pelo excesso. Normal.

Na estrada dos louros, que vem conduzindo o Botafogo na liderança do Campeonato Brasileiro 2023 desde a terceira rodada, inumeras foram as adversidades. A lista é grande: desconfiança da mídia e adversários de que o início com cinco jogos e cinco vitórias seria consistente para credenciar uma briga por título; vitórias contra times considerados favoritos logo no primeiro turno; saída do técnico Luis Castro e chegada do interino Claudio Caçapa — que ainda sem experiência como técnico no Brasil geraram dúvidas se os resultados continuariam — , saída de Caçapa e chegada de Bruno Lage, que teve desempenho inferior aos anteriores e foi demitido após uma sequência de derrotas e um empate com o Goiás dentro de casa (pondo Tiquinho no banco de reservas); efetivação do interino Lucio Flavio e vitórias fora de casa contra Fluminense e América-MG e derrotas em casa para Cuiabá e Palmeiras. Enfim, a lista é grande e seguimos contando.

Faltam oito jogos para o fim do campeonato e matematicamente o Botafogo é o time mais perto da pontuação de campeão. Sentimento raro entre botafoguenses, uma dose de otimismo poderá ser importante. As derrotas recentes abalam, mas que os jogadores nas próximas partidas materializem os versos cantados no nosso bonito hino: Foste herói em cada jogo, Botafogo, por isso é que tu és.

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Arthur Lemos Coutinho

Acredita que Futebol, Política e Religião se discute. Tenta fazer isso de forma respeitosa. Doutorando-se | E-mail: arthurlemoscoutinho@gmail.com