Bodas de Trigo

Lembranças do nosso terceiro ano casados.

Arthur Lemos Coutinho
5 min readJan 6, 2024

Mês passado Ingrid e eu completamos 3 anos de casados, as Bodas de Trigo. Dezembro acaba sendo aquele mês em que fazemos as retrospectivas e avaliações sobre o que passou. Janeiro é quando escrevemos metas e fazemos planos. Então aqui vão alguns registros do que vivemos.

Não tenho a pretensão de falar por nós dois. Se tem uma coisa que aprendi neste ano é que mesmo tendo escolhido um ao outro para compartilhar a vida, cada um tem autonomia de falar por si. Acredito que o hábito de dialogar contribui para que essa autonomia seja tão saudável quanto o hábito de comunicar ou pedir permissão.

Em algum momento de 2023 assistimos ao vídeo da JoutJout falando sobre criar expectativas, cujo título é Eu Sei que Você Fez os Seus Castelos (veja aqui). Passei a utilizar a linguagem de criar castelos toda vez que vou falar sobre expectativas e estou aprendendo a lidar com a ansiedade.

Num domingo qualquer, por exemplo, saímos pra fazer uma caminhada na orla de Camburi e percorremos quase todo o caminho conversando sobre como será nossa rotina tendo um filho ou uma filha. Esse assunto acaba sendo rotineiro no nosso dia a dia. Mediante as várias opiniões que compartilhamos sobre os se, como, quando, por que, etc., sinto que sempre nos entendemos bem e permanecemos na mesma página.

Ainda falando sobre conversas rotineiras, gostaria de destacar duas reflexões que apareceram em algumas ocasiões. Uma é de Clarice Lispector e diz “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso — nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. A outra, creditada a uma citação feita por Eduardo Galeano, “Para que serve a utopia?”, diz:

A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

De algum modo, senti que nossa tentativa de se conhecer melhor, divergir, discordar, pedir perdão, encontrar um consenso e seguir acreditando em nós tem tanto a ver com a reflexão sobre “cortar os próprios defeitos pode ser perigoso”, quanto com “a utopia está lá no horizonte” e “não deixe de caminhar”.

Diferente de 2022 - quando nossa maior divergência e grave falha de comunicação ocorreu no dia de comemorar as Bodas de Algodão (leia aqui), episódio que apelidamos de A Revolta do Cinto -, em 2023 não tivemos nenhuma grande divergência.

Apesar disso, em 2023 tivemos que lidar com três ocasiões em que fomos a velórios. Sentir a dor da perda, pensar sobre o que é a vida, o que é a morte e todas as demais emoções envolvidas naqueles momentos foi dilacerante. Tentar conversar francamente sobre como nos sentimos em cada uma das ocasiões também foi emocionalmente difícil.

Não coincidentemente, estou estudando o conceito de Necropolítica em minha tese de doutorado, tornando minha aproximação com o assunto da morte algo rotineiro nos últimos tempos. Aparentemente, estamos lidando bem.

Para além das dores, tivemos momentos muitos felizes em 2023. Um destes momentos foi uma viagem que fizemos em junho para o Rio de Janeiro. Entre outras coisas, estivemos com familiares queridos, pude cumprir uma tarefa importante do doutorado, visitamos o Cristo Redentor (onde visitamos uma exposição e tiramos a foto da capa deste texto) e ainda saímos para comemorar o dia dos namorados.

Em Julho, nos desafiamos a fazer uma trilha de subida do Mestre Álvaro. Quando chegamos em casa, exaustos, concluímos que fomos quase irresponsáveis. O ditado correto seria tivemos mais sorte do que juízo. A experiência misturou prazer, preocupação e dor.

Prazer porque fazer atividade física e ainda estar em contato direto com a natureza durante boa parte do domingo foi fantástico. Preocupação porque durante o caminho sentimos que não estávamos tão preparados física e mentalmente para um esforço de subida tão grande como enfrentamos. E dor porque foi bem cansativo mesmo. Ainda bem que estivemos acompanhados de um grupo de amigos que nos apoiou. E no final deu tudo certo. Sinto que faria essa subida novamente. Para Ingrid, nem tão cedo.

De maneira inicial e um pouco tímida, também realizamos atividades de forma separada nesse terceiro ano de casados. Ingrid gosta de shows, eu nem tanto. Então, ela teve a oportunidade de sair pra ir em alguns shows enquanto eu preferi ficar em casa.

Foi assim em maio, quando ela saiu pra ir num show da Bia Ferreira num sábado, enquanto eu quis ficar em casa pra ver Botafogo x Fluminense. O mesmo aconteceu em agosto, quando ela foi no show do Djonga numa sexta-feira. Em novembro, quando ela foi no show do RBD em São Paulo eu até gostaria de ter ido — muito mais pela viagem — mas não fui. Apesar disso, fiquei muito feliz em saber que ela estava feliz e realizada.

Aliás, tive que me acostumar a ouvi-la cantando e cantarolando as músicas do RBD durante algum tempo em 2023. De todas as músicas, a que mais gostei e adicionei na minha playlist foi Cerquita de ti. As outras músicas que mais cantamos juntos em 2023 foram Minha vida é um filme, Satellite, Muito Romântico, Gente e Azul.

Ainda falando sobre músicas, descobri que não gosto tanto das músicas da Ingrid. Percebi que preciso ser mais tolerante quando ela escolhe a playlist de músicas pra tocar, da mesma forma que ela tolera as minhas.

Gostaríamos de ter visto muito mais filmes e lido mais livros. O tempo no celular nos roubou isto. Lendo os textos das bodas anteriores, percebi que temos falado sobre isso desde o início do casamento. Outro assunto que se repete é nossa tentativa de restabelecer uma rotina espiritual. Conversamos bastante sobre isso, mas nem sempre chegamos à uma conclusão. Talvez a não conclusão seja uma forma estranha de conclusão.

Falando sobre filmes, aqueles que mais nos marcaram foram: Nada a Esconder (2018, Fred Cavayé), Relatos Selvagens (2014, Damián Szifron), Racionais: Das Ruas de São Paulo Pro Mundo (2022, Juliana Vicente), Questão de Tempo (2013, Richard Curtis) e Barbie (2023, Greta Gerwing).

Das séries, gostamos bastante de O urso (2022/2023), The Last of us (2023), The White Lotus (2021/2022), Em casa com os Gil (2022) e Viajando com os Gil (2023). Nossa decepção foi a sexta temporada de Black Mirror. Além disso, me decepcionei muito com o Botafogo (mas já escrevi bastante sobre isso).

Em 2023 visitamos lugares pela primeira vez, viajamos, jogamos tênis, montamos um quebra-cabeças, participamos de aniversários e confraternizações, aprendemos novas receitas de comida e ainda começamos a conviver com os cachorrinhos, Skyler e Dembê, do meu irmão.

De forma geral, avaliamos que foi um ano bom pra gente. Soubemos equilibrar nossas ações nos momentos em que tínhamos mais conforto da mesma maneira em que soubemos nos respeitar quando vivemos momentos de maiores restrições. Renovamos o desejo de compartilhar a vida juntos e acreditamos que 2024 será melhor.

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Arthur Lemos Coutinho

Acredita que Futebol, Política e Religião se discute. Tenta fazer isso de forma respeitosa. Doutorando-se | E-mail: arthurlemoscoutinho@gmail.com